
Desta, recordo mais ou menos distintamentde (o que raras vezes sucede, de resto, de tal modo é caótica a "paisagem" da minha bancada de trabalho...) a proveniência dos materiais, a saber, uma 'Revista' antiga do "Expresso" e um velho cartaz do período "áureo" do salazarismo. O ditador aparece aqui claramente como o Hermafrodita (numa paródia intencional da respectiva sacralização/mitificação por toda a espécie de imbecis e saudosistas---ou de imbecis porque saudosistas?); o alfa e o ómega, o Ísis e Osíris de uma personagem/concepção ou ideação, ela mesma, (des) estruturalmente marcada pela ambivalência (declaradamente sexual ou sexualizada, neste caso) e que, por esse motivo, ajuda a figurar mais eloquentemente o Portugal que simbologicamente decidiu, um dia, "entregar-se" ao(s) ditador(es) num casamento em que foi a noiva de um noivo, de resto, adequadamente equívoco e ambíguo.
O casamento em causa foi, no conjunto, é preciso dizê-lo, sob múltiplos aspectos uma violação consentida e um prolongado incesto. Ainda a propósito da imago do ditador, duas notas adicionais: primeira, quis fazê-lo uma espécie de "tótem imperfeito", isto é, intencionalmente inconcluso, e, ao mesmo tempo, de eco plástico de uma personagem muito em particular d' "Os Canibais" de Álvaro de Carvalhal (tal como no-la mostra Manoel de Oliveira no filme homónimo) e que, não por acaso, cito expressamente aqui. Segunda, por meio da "con/fusão" deliberada do fascismo com aspectos "significados" (e, ao mesmo tempo, "trans-postos") da sexualidade humana quis, também, evocar Pasolini (cuja visão tipicamente probematizada da opressão política passa, de modo muito característico, violento e nuclear, pela dilaceração ou pelo "jeu de massacre" impiedoso com a própria sexualidade.
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