terça-feira, 8 de abril de 2008

"Da originalidade em certas formas de Arte"

A originalidade no trabalho de "colar"?
Poder-se-á pôr, suponho eu, de múltiplos modos.
Uma hipótese que avanço desde já consiste em ver no "colleur", antes de qualquer outra coisa, o "seleccionador" ou o "editor" empenhados (ou mesmo---hipótese que francamente admito prefirir---o "encenador" criterioso, metódico, de um património global de imagens que, de modo absolutamente torrencial, vão invadindo, a cada dia, a "privacidade intelectual" ou intelectiva" e especificamente (queiramo-lo ou não) "cognicional" do cidadão anónimo da... "Idade Mídia" em que vivemos---ou imaginamos viver---hoje-por-hoje.
Esta, a meu ver, uma maneira possivelmente justa e adequada de perspectivar e de equacionar com algum admissível rigor "de episteme" o espaço particular de intervenção do "colleur" na Arte.
Mas há outro aspecto que não quereria deixar de considerar, falando especificamente desta "questão" da originalidade (poderei dizer "secundária": da originalidade secundária ou mesmo terciária e por aí fora?) do papel do "colleur".
Eu sempre defendi, com efeito, a natureza estruturalmnte finita (ou, no mínimo, cultu(r)almente finível) da 'criatividade operante' em Arte.
De facto, o problema (porque pode realmente sê-lo!) da criatividade é que há que, ao transformá-la especificamente em objecto (ou objectos) concretos, materiais, "negociar" a respectiva quantidade (falo, claro, da "quantidade de originalidade pura", digamos assim, que o objecto ou objectos em causa contêm) com uma espécie de idioma plástico (narrativo, conceptivo ou até motívico) comum o qual opera, na prática, como o meio físico ou químico de onde dialecticamente vão surgir, no limite, os valores de uma criatividade entendível e verdadeiramente actuante em termos cultu(r)ais, digamos assim.
Recordo sempre que abordo, mesmo se apenas para mim, este tema uma observação de Moniccelli sobre o modo como ele e outros realizadores italianos seus contemporâneos se "pilhavam" os gags que re/introduziam pessoalmente reconstextualizados nos respectivos filmes.
Não eram, então, os gags em si que geravam, em termos de reconhecimento cultu(r)al, o valor-"originalidade" mas o modo dinâmico e especificamente dialéctico como determinados "cultu(r)emas" e "representemas" eram autonomamente considerados, re/interpretados e consequente (e continuamente) re/inseridos no próprio "tecido do olhar cultu(r)al e fílmico" global da época que determinava, em última instância, a emergência do valor-originalidade .
Era, de resto, essa circunstância de haver alguém que reflectia de modo autónomo sobre as coisas da realidade (social, cultu(r)al, política, etc.) que permitia que um certo olhar orgânico sobre essa mesma realidade se fosse conservando como uma componente vital do próprio processo em si de gerar "culturatividade" ou simplesmente Cultura.

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