sexta-feira, 11 de abril de 2008

"Sem título-I"

Concebo esta colagem como uma espécie de presépio mas completamente transgressor e onírico onde o próprio riso indicia (e acaba identificando!) a inquietação mais extrema e irregressível.
Rir no meio da desfixação mais ou menos exaustiva e meticulosa da "Ordem" é, talvez, a expressão limite do próprio Terror, no sentido em que já nem essa fragilíssima "ficção conceptiva" que é aquilo a que ambiciosamente chamamos (a) "Razão" pode interpor-se entre nós, a nossa... "consciência" e a (nesse caso) fatalidade total e incontornável do Fim...
Agrada-me, na colagem, de forma particular, a ideia da pedra (onde, aliás, se desenha---como dizer: simbolicamente?---o esboço de um Labirinto) como uma barreira maciça, intransponível (a expressão mineral do Fim?) numa colagem que evidencia, também, a Crueldade e a própria Estupidez humanas na forma extrema de uma "indiferença argumentada" (a mulher que ignora grosseiramente o Sagrado, concentrada que está no seu pequeno círculo ou minúsculo "universo" de afectos obviamente muito primários: o sentimento na sua expressão mais---literalmente---animal). A pequenez material da mulher exprime essa condição grosseira e primária.
E quanto ao Sagrado: já repararam como é cinzento, brumoso, definido por uma espécie de pirâmide simbólica de sombra (que exclue a representante do mundo---pura ou impuramente...---material) e, sobretudo, como o Sagrado, ao contrário dela, se apresenta curvado, cabisbaixo e que lhe desconhecemos por completo o rosto verdadeiro, a identidade?...


Sem comentários: