terça-feira, 8 de abril de 2008

"Os Amantes"

Nestes "Amantes" tento um novo exemplo ou uma nova "circunstância ilustrativa" do meu conceito particular de "comédia ontológica" que faço derivar da minha observação da Obra (sobretudo) de Beckett: Romeu e Julieta impossivelmente revisitados numa múmia e num tronco humano petrificado e decapitado (como se, sendo "amante", o fosse de forma completamente independente do seu desígnio e da sua vontade, protagonizando, pois, passivamente, não determinando, o seu papel específico no "romance").
Terei (ainda que remotamente) conseguido sugerir essa ideia essencial da fragilidade e mesmo da fatuidade do desejo humano relativamente à (im) possibilidade real de condicionar, de forma verdadeiramente activa e relevante, o curso ou o funcionamento último do real?...
No trabalho, agradam-me de modo particular as colorações "fechadas" e intencionalmente silenciosas, o "peso" que parece obstinadamente para baixo a "personagem" da múmia, a volumetria premeditadamente divergente/dissonante e a própria "arrumação" física (isto é, as "marcações") das duas "personagens" principais (sugerindo, de forma expressa, a impossibilidade real de "entendimento" e de interacção entre ambas).
Mas, induzindo, sobretudo, a sugestão (que deve sempre perceber-se no trabalho) que inexiste por definição (ou por absoluta fatalidade) entre elas e a própria lógica dos "papéis" ficcionais (e críticos---da "figuração") que lhes são aqui (sarcasticamente) atribuídos.

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